Opinião
O marechal veta o senador
Por Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Por seu feitio moderado e pela generosidade da sua política, assim como pelas relações de boa inteligência que mantém com o marechal Deodoro da Fonseca, parece a todos que o senador gaúcho Gaspar Silveira Martins, natural de Bagé, de fato é a pessoa indicada para recompor a difícil situação em que se encontra o governo do País. O novo presidente do Conselho, antes de formar o Gabinete, decide ouvir a opinião de Deodoro da Fonseca. Envia-lhe, então, uma carta na qual participa ao marechal ter sido encarregado pelo imperador de formar o novo Gabinete. A missiva é levada em mãos pelo major Trompowski. Na madrugada, o major retorna ao Paço da Cidade. Mostra-se contrafeito. Adoentado, o marechal o recebera no leito. Declarou-lhe não ter resposta a dar, uma vez que "a República é fato absolutamente consumado". E, depois de repetir suas mágoas e queixas por tudo o que se fez e que se faz contra o Exército, atribuindo grande culpa disso ao conde d´Eu e ao visconde de Ouro Preto, despacha o emissário do presidente do Conselho. Nas entrelinhas, o marechal e o senador ainda amargam uma pendenga sentimental entre si: os favores da bela e sensual baronesa de Triunfo.
De fato, a República já fora instituída desde a noitinha da véspera, ou seja, 15 de novembro. À tarde desse dia, é certo, a confusão reinante entre os republicanos impera. O marechal Deodoro da Fonseca depusera o Ministério Ouro Preto, mas não impusera a República. Pior: dizendo-se "amigo do imperador", não pensara em erradicar o regime monárquico. Sabendo que os monarquistas, reunidos no Paço da Cidade, tentam aglutinar um novo Gabinete, os republicanos mostram-se desassossegados e apreensivos. Uma grande comitiva se encaminha à residência pessoal do marechal. Há discursos e petições. Em resposta, Benjamin Constant assoma uma janela e tenta justificar as apreensões que todos revelam. Não faz nenhuma afirmação categórica e chega a declarar que o novo governo consultará em tempo a nação para que esta decida os seus destinos. Na noite de 15, a situação se aclara quando Deodoro da Fonseca concorda na implantação da República. Benjamin Constant conduz então seus companheiros ao Instituto dos Cegos, do qual é diretor, a fim de ali lavrar os decretos republicanos. No dia seguinte, 16 de novembro, o Governo Provisório dirige-se à Câmara Municipal e presta juramento solene.
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